(Machucado falso feito por Jéssica B Valeriano)
Essa carta não é contra os shows, festivais de
música, eventos culturais que acontecem em Uberaba, muito pelo contrário, eu
inclusive amo música, toco baixo, tenho banda, e apoio a cultura como um todo
ubesabense!
Eu não venho aqui falar de questões
pessoais, não vim falar de ressentimentos com ninguém ou com nenhuma discussão
mal resolvida, não é nada disso! É uma questão cultural, social e política; a
negligencia com a violência contra as mulheres, principalmente nos
relacionamentos amorosos.
Não foi comigo, mas doeu em mim! Não foi eu que
apanhei, não foi eu que machuquei, não fui eu que sai sangrando e com medo, não
foi eu que terminei meu namorado e sai agredida.
E daí? Que defendo outras
pessoas que foram agredidas? E daí se eu fico triste mesmo com a negligencia
cotidiana? E daí que 200 mulheres são agredidas por mês na minha cidade? O que
eu tenho haver com isso? Por que denunciar uma violência pode estragar os
eventos musicais e culturais da minha cidade? O que é mais importante o bem
estar das pessoas ou a imagem que vamos passar pras pessoas de fora que vem se
apresentar em nossa cidade?
Pois é, isso aconteceu e acontece
cotidianamente, mas não foi comigo! Tentei ajudar uma garota agredida, tentei
expressar esse problema no local onde tudo ocorreu, eu presenciei uma
violência. Alguns entenderam minha situação, a maioria não me ouviram, era pra
não “sujar o nome da cidade” se alguém falasse sobre isso, sendo que este é um
problema no mundo todo! Só sei que estou péssima com isso.
Não, o problema não é dos eventos culturais, ou
dos estilos musicais em si, são as pessoas que fazem letras de músicas
sexistas, que quando uma mulher é agredida em um show preferem silenciar e não
denunciar. As mulheres que crescem nessa cultura continuam reproduzindo a
opressão que aprenderam e que acreditam ser normal. Não garota, a culpa não é
sua, mesmo que você não queria denunciar, mesmo que você reproduza o machismo,
a culpa é da sociedade que te ensinou que a violência que você passou não é
nada, que mulheres não tem o mesmo potencial quando exercem uma atividade
geralmente feita por homens.Foi a sociedade que te ensinou que a violência que
você sofreu é uma coisa atoa, mas quando um homem é agredido ai sim é caso de
polícia, caso for uma mulher, ninguém tem nada haver com isso, “melhor não se
meter nisso” é o que me disseram, afinal não foi comigo!
Tentei pedir para o vocalista de um grupo
musical que no momento se apresentava, levantei uma folha A4 escrito “uma
mulher foi agredida pelo ex-namorado aqui!” ele simplesmente pediu pra tomar
cuidado com as meninas para não machuca-las durante o show.
O fato não aconteceu “sem
querer” não foi alguém que acertou sem querer a garota, que esbarrou nela
enquanto estava curtindo, dançando ou festejando, foi MUITO proposital!
Tentei falar sobre isso para as pessoas que
tomavam conta do local do evento e não deixaram eu subir no palco entre um
grupo musical e outro pra falar sobre isso pois iria estragar a imagem de um dos
segmentos culturais e musicais de Uberaba, sendo que a violência contra as
mulheres acontece em todo lugar, no Brasil e no mundo.
Fiquei muito triste!
Triste de verdade! Algumas pessoas expressaram ter boa vontade comigo e
compreenderam minha indignação, eu reconheço, mas outras presaram mais por
“passar uma boa imagem” do que falar da verdadeira opressão que existe.
Não entendo também porque alguns presam mais
pela imagem do que pelo bem estar das pessoas! Não
entendo! Vai demorar muito
pra eu entender!
Essa carta não é contra
pessoas que fazerem parte de determinado segmento cultural, social, político ou
musical, é contra a negligencia com a violência contra as mulheres, é contra
atitudes de pessoas que negam espaços públicos para denunciar uma questão que
não é regional, é mundial, é cultural. Mulheres são agredidas e até mortas
diariamente por seus companheiros por ciúmes, pelo cara não aceitar o fim da
relação, por homofobia, por racismo, por sexismo. Diariamente por questões
sociais e culturais mulheres morrem por serem e terem escolhas livres sobre
suas vidas, tem gente que ainda não consegue lidar bem com isso e age pela
força bruta ou pela chantagem emocional.
MAS SOBRE ISSO TÁ TODO
MUNDO CANSADO DE SABER QUE EXISTE, MAS NINGUÉM FAZ NADA!
PELA BOA IMAGEM DA CIDADE
QUEREM QUE EU ME CALE, MAS NÃO VOU CALAR!
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